quarta-feira, 22 de abril de 2009

Intempestivo


As avenidas estão longe daqui
E aqui
Há cadeiras vazias
Você para, senta e olha
Há olhos que mentem

Há alguém nos subestimando
No escuro da cidade
Mas passando por essa fase
Atacaremos, pois
Estamos nos armando

Os policiais serão presos
E os bandidos assassinados
Por essas crianças que usam o meu fuzil
Me diz, me diz
Qual é o preço do Brasil

domingo, 19 de abril de 2009

Domingo

E hoje o tédio se sentiu em casa dentro de mim. Ele teve companhia, é verdade, de outros amiguinhos seus que às vezes o acompanham, mas que não me fazem produzir nada agradável. E fazia tanto tempo, numa tarde de domingo, que não tinha aquela sensação de que minhas pernas estavam enterradas no chão; de que as estrelas nascendo no céu no início da noite iriam cair sobre minha cabeça, fazendo tudo pegar fogo e morrer sem deixar memórias.

Tédio e domingo formam uma mistura alucinógena. Quando se unem, eu me sinto um raquítico pesando 150 quilos. É tudo tão fraco e tão sensível e, ao mesmo tempo, tão pesado e tão difícil de alterar. E quando olho pela minha janela, sempre olho para a mesma direção. E lembro dos frutos daquela árvore tão simpática.

Bem, hoje foi assim. Eu experimentei essa velha sensação que me abandonou por um bom tempo. Hoje é domingo e, em determinado momento do final da tarde, me peguei dizendo: “Porra, hoje é um autêntico domingo”.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Acomode-se


Já tentou fazer os finais se encaixarem?
Te levarei para o único final que conheço
Sei que quando se tenta, várias portas se abrem
Você quer ter um bom fim, não é mesmo?

Sei quem pode nos levar aos lugares
Onde todas as veias se encontram
Quais cores você quer para os mares?
Me diz enquanto minhas mãos os preparam

Nunca rezamos, mas se ajoelhe essa noite.
Eu só preciso ouvir alguns sons
Consigo ouvir bem os pássaros
Alguns deles têm certos dons
Agora, estique o seu braço
E não tenha medo do meu açoite

Só quero que você feche os olhos e respire ao mesmo tempo
Enquanto os finais se encaixam dentro de você
"Querida, você se lembra das tardes de domingo de novembro?
Fazia frio e tudo que eu queria era terminar tudo com você"

terça-feira, 14 de abril de 2009

Homens Bombas


Peguem todas as suas armas e chamem todos os seus amigos. Às vezes ela se chateia comigo, mas é porque eu prefiro os sorrisos coletivos a um único riso. É por isso que lhes digo para pegarem todas as armas e chamarem todos os seus amigos. Hoje é um dia de fazer o mundo todo sorrir.

Vamos fazer apenas algumas coisinhas.

Sentem-se aqui, vamos apagar as luzes. Lembram-se daquele jovem que nos disse que com as luzes apagadas nós nos sentimos melhor? Bem, é só um pouco de baixaria.

Se estamos todos juntos aqui, é porque alguém nos contagiou. É difícil chegar em casa após um dia duro e ver que um nobre partiu. Não é tão bom descobrir que somos pouco abençoados e que existe um fantoche pintado de cinza nos fazendo rir todas as tardes.

Por isso seremos homens bombas hoje. Temos algumas cabeças para explodir. Sabem, querida, eu vou começar pela minha; e sabem por quê? Seu sorriso me instiga a isso.

Não, não digam nada. Venham, sentem-se aqui e se explodam comigo. Temos tempo. Somos apenas um casalzinho esquisito.

sábado, 11 de abril de 2009

Cores de uma Canção

Chegará a nossa vez de construir nossa casa com as nossas mãos,
Em meio a um mar azul-anil profundo, belo e distante,
Em meio a uma floresta de árvores protegidas por anciãos,
De contrastes verdes protetores formando flores ofuscadas e cintilantes.

Não me causa comoção morar numa cidade assim tão grande,
Aqui, a felicidade das pessoas derrete com o fim do dia,
Nossos prazeres não se identificam dentro desse presente,
Acompanhe-me por essa natureza que é tanto sua quanto minha.

Imagine que o azul da noite expire por nossa vontade,
Que o amarelo do dia seja fruto da sua felicidade,
As cores giram em torno de nós pela beleza do contraste,
Aprecie esse seu novo mundo formado por todas as cores,
Sinta o sabor de ter uma lua manchada e coberta de flores.

Tenho um problema, consegue me identificar?
Consegue me ajudar com o ritmo do seu toque?
Adquira uma palavra para que eu possa cantar,
Compor para a minha mulher uma bela canção de rock,
Com as influências que marcam e apoderam o seu próprio pensar.

Cansei de criar mundos surdos e mudos para a minha mulher,
Crio para ela músicas que explicam a explicação do chegar,
Excluindo a negação de que o que nos motiva é a fé.

Planetas de vozes vociferando seu nome no vácuo do espaço,
Pétalas de cordas que a prendem, propondo além de palavras,
O descanso que se refere ao que eu sei que posso e faço,
Assim que a pretendo sentir, como frases desarmadas,
E se eu fosse escolher um lugar para morrer, escolheria seus braços.

Nós vamos contribuir com o amanhecer e com o entardecer,
Por sermos os mais belos telespectadores desse ímpeto,
Sentados naquele banco antigo e cômodo que tanto adoramos,
Que transcorreremos o que chamamos de linha do infinito.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Rei Caronte

Nascido em Sheol, não se sabe em que ano ou onde
Sabe-se apenas que deram a ele o nome de Caronte
Era costumeiro atravessar a barca pelo rio Aqueronte

Quando era questionado por ser tudo dessa maneira
Ele respondia: “Somente por isso, acredite
Aqui, neste meu rio, não se pesca sereia
E nenhum empregado de Afrodite trabalha"

Caronte era tão velho e há tantos anos com aquela missão
Sempre que chegava um novo passageiro, recebia sua moeda
E remava com suas antigas forças, fumando alcatrão
Seu rio era um grande poço de água, rodeado de pedras

Caronte, rei do segundo maior rio do mundo
Caronte, você é um grande filho do barro
Percorre navegando, destruindo sonhos oriundos
Faz da morte alheia remadas de um barco

Há boatos que mataram seu pai, mas a verdade está longe disso
Caronte jamais teve rivais, seu Pai é dono de tudo isso
Caronte, continue sua navegação pelo Aqueronte
Seu Pai o espera, trazendo mais um de seus filhos

Quando tentaram trair Caronte, ele guardou sua barca
E prometeu a todos cessar o seu trabalho
Deixando todos os enfermos ansiando novas almas
Assim, Caronte se tornou um Rei honrado

A guerra estoura ao amanhecer, mas Caronte continua
Ele é perpétuo nessa navegação eufórica
Ele nos disse certa vez que a morte é uma grande amiga sua
É por tanta admiração que ele faz dela a sua Senhora

Caronte disse: "deixe este lugar para o além
Deixe-o entrar na minha barca para chegar ao seu lugar
Este lugar se tornará algum dia importante para alguém
Será aqui o destino final da minha barca, este é o nosso lar"

Não há homens aqui perseguindo o velho Caronte
Ele é apenas um serviçal dentro de um grande rio
Quero que o Senhor nos mostre a sua fronte
Porque você é o Pai de Caronte, você é o Senhor
Ele navega há tantos anos trazendo seus escravos
E no nosso mundo falam da senhoria com tanto horror
Eu quero agora enxergar o rosto de quem diz ser o Diabo

Caronte é um velho que trabalha para o velho Hades
Não se sabe desde quando, mas Caronte é filho do pai
Esse segredo está guardado no seu coração trancado à chaves

Não chore, não chore, agora que você está perto de descobrir
Chegou a sua hora de navegar pelo rio Aqueronte
Triste infelicidade a sua de ter que logo agora partir
Entre na barca e pague a moeda do Rei Caronte
Ele te levará até o final do rio sem que você adormeça
Você está navegando sobre sonhos, onde não há sereias
É apenas o rio que te leva para o Inferno
Cuidado, não mantenha o seu corpo assim tão interno
Caronte é filho e salvador da verdade
Caronte apenas faz o seu dever de levá-lo para Hades.

domingo, 5 de abril de 2009

Identidade

Bem, eu sei de tudo. Não há mais nada agora que eu não posso captar. Se lembra daquela tarde ofegante? Certo...

Peço desculpas, mas não havia jeito de ficar quieto. Entenda que eu estava zonzo naquele dia. Acertava todos os alvos; mas os sons, não. É porque os sons me desequilibram.

Agora, quando é manhã, eu sinto sempre tudo da mesma forma. Por que eu fiquei? Jamais apenas um pouco alterado. Não há nada aqui que eu não conheça. Só essa sensação de que agora tudo ficará como deveria.

Não há nada perdido ainda; só sou um labrador farejando os rastros. Sinto falta; mas o que posso dizer? Palavras? Palavras sãos coisas que se dizem...

É engraçado, não há encruzilhadas me cercando. Me lembro ainda das promessas pactuadas naquele dia. Um dia me esconderei nas suas asas.

Acho que você tem nome de pássaro.

E tudo que tenho é um deus me atacando. Vamos lá, senhor. Uma palavra, um ato. Ou uma gota de sangue. Sempre, sempre; não sei por qual razão, me saboreio observando. O passo, o tom de voz, a leveza do tato, me entende? É claro, não precisa muito para instigar. Já a satisfação se dá pelo ato. Por que sou tão desvirtuado?

Acho que falo demais agora. Esqueço que o mistério é a minha rede.

Adoro palavras, sabe? Já percebeu que palavras tocam? Seja o que for, com as palavras certas, se consegue a vontade. E vontade é tudo que importa, o resto é imperfeito.

Aprenda a conversar, meu camarada. Autobiográfico demais, não acha? Você se sente um pouco desconfiada lendo isso agora? Foi por acaso que você está me lendo agora? Não serei cínico: escrevi para você sim. E é por lhe achar diferente, sabe?

Sou fascinado por diferenças...

A diferença descoberta leva a uma igualdade tão absurda, não acha? Se não entendeu, pense um pouco a respeito. Não quero ser arrogante.

Vamos combinar agora: um dia eu lhe perguntarei a origem do seu nome. Então você entenderá, certo?

Eu sou só uma pessoa que gosta de brincar demais. Não gosto de resolver enigmas, mas me maravilho em criar alguns. E esse não é complicado. A solução é mais óbvia.

Eu não escreveria para você à toa.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ambíguo

As coisas são como são
Porque são assim
Não poderiam ser de outro jeito
E caso fossem
De outro jeito seriam
Sendo desse mesmo jeito
Voltando a ser como são
Ou como seriam
Mas não eram.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Grades da Quinta Rua

O verde do lodo se choca com o cinza do chão
Batido de cimento, com as borras espalhadas
Os mesmos brinquedos de dez anos atrás
A mesma criança linda dona de um coração

A lagarta no pé de goiaba - cercado de prédios -
O resto do pomar que a vizinha jogou mal olhado
Isso fazia parte do meu quintal, meu remédio
Os mesmos brinquedos de dez anos atrás, jogados

A gangorra do parque sem ter alguém para sentar
Estava lá, ela no chão, esperando equilíbrio
Eu a enterrando no chão, uma direção alta
A outra baixa, comigo sozinho.

sábado, 28 de março de 2009

Bar do Jaques (Parte II)

O bar do Jaques fica no final de uma ladeira; uma rua morta de asfalto antigo, cravejada em paralelepípedos. Se o bar não existisse, ali seria o fim do bairro. Morto; local que teria a atração apenas dos mendigos, viciados perdidos, ladrões pequenos e prostitutas infectadas. A geografia do lugar era propícia. Jaques foi um homem de incrível visão. Comprou aquele terreno lúgubre e desabitado; comprou por uma ninharia, de tão desvalorizado que era. De um lugar como aquele que ele precisava ter para abrir o seu negócio próprio; sua freguesia seria as pessoas interessadas em um refúgio social. O local ideal para elas se desabrocharem, sem medo das fofocas hipócritas de uma sociedade sórdida. Assim, padres ninfomaníacos, policiais que gostavam de transar com homens, professoras apaixonadas por seus alunos e todo o tipo de gente que queria um pouco de diversão sem usar máscaras eram atraídos àquele bar. Jaques dizia que alguém deveria compreender as pessoas e seria justo cobrar um valor simbolicamente monetário por isso. Se o dinheiro não compra felicidade, Jaques era o cara que vendia o espaço para as pessoas serem felizes.

Como qualquer casa noturna, o dia mais movimentado da semana era sexta-feira. O último dia de trabalho para a maioria das pessoas; todos exaustos de manter as aparências. Jaques fazia algo especial para os seus clientes na sexta-feira; começava com um show de humor e depois música ao vivo. E nossa bandinha faria o show aquela noite, com sua primeira e única formação no palco, até aquele momento: Pablo, líder, vocalista, guitarrista e robô; Sérgio, baixista e o único verdadeiro músico e compositor do grupo; eu, gaitista e nada mais; e Marques, o nosso baterista autista viciado em crack.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Título Ausente

Aos meus pequenos amigos
Eu escrevo uma obra intitulada
Apenas como texto sem título

Pessoas que tem algum distúrbio
Não entendem que tudo
pode ser, assim como é, ambíguo

Cada vez mais o confuso e o estranho
Muda de maneira muito descontrolada
assim como eu mudo o meu tamanho

segunda-feira, 23 de março de 2009

A Ideia, o Estrago

Quando um homem está no auge de sua fissura sexual, pouco lhe importa proporcionar prazer à sua amante. Tudo o que esse homem endiabrado deseja é possuir sua amante como um cavalo cruza com uma égua, ou como um cachorro acasala com uma cadela. A mulher, quando também está no auge de sua fissura sexual, deseja ser uma égua ou uma cadela; ela escolhe o seu macho. O macho quer provar para ela que ele é o melhor. Este é o estado natural dos homens e das mulheres. O homem quer fazer sexo, a mulher quer ser possuída; e ambos têm um pensamento em comum: que se dane o resto do mundo.

Homens e mulheres rangem os dentes e entram em um êxtase simbolizado pelos gritos e gemidos. O suor escorre pelo corpo enquanto o homem apenas deseja penetrar mais profundamente; e a mulher ser penetrada até o útero. O som é inexistente; a dor é o melhor analgésico: isso também envolve trocadilhos. Às vezes, eu rio das palavras.

Analgésico.

A melhor transa é feita inconscientemente; é um vulto que o casal se pergunta depois: "o que foi isso?". Não existem jogos e seduções no estado de inconsciência. Existe instinto. O orgasmo é o grito desesperado da liberdade; e aquele cheiro característico de sexo que exala no local desde o início da transa, apenas é perceptível depois do sexo. Às vezes, sequer no final é perceptível.

A paz não tem cor, nem cheiro.

Nagasaki nas minhas entranhas.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Bar do Jaques

O sono é um dos caçadores mais virtuosos e o sonho é o seu meio de tortura predileto. Na cama, molhando o lençol com o suor infectado de toxinas. O sono me agoniza o dia inteiro e o auge do seu sadismo é me proibir de lembrar os meus sonhos nefastos. Acho que morri duas vezes hoje: quando deitei e quando sonhei. Nesse momento alguém quebrou a vidraça do quarto com uma pedra. Escuto ao longe o grunhido quase insonoro:

- Ei cara! Vamos, já são quase 10 horas.

Quase 10 horas. Deitei-me ainda não eram 5 horas da manhã. E agora já são quase 10 da noite. O sono e o despertar são irmãos siameses. Um enforca a vítima até que ela tenha um colapso e desmaie por toda eternidade; o outro é o anfitrião que recebe sua vítima sem cerimônias, com facadas cirúrgicas por toda a cabeça.

Ressuscito após um dia.


Imagino Jesus Cristo ressuscitando após três dias.

Sinto pena de Jesus.

- Ei cara, você está aí? Você está nos atrasando.

- Estou me calçando.

Essa é a nossa noite. Vamos tocar em um bar movimentado. Foram duas semanas de ensaios. Apenas preciso achar minha gaita. Calço os sapatos, a sola suja de barro. Às vezes, para mim, apenas sair por aí e sujar a sola dos sapatos de barro, molhar a barra das calças, rasgar as mangas da camisa em algum arbusto espinhento, caçar um lobo na floresta, é a solução. Mas eu não sou tão bom, e essa noite é a nossa noite. Temos um show e os moleques estão esperando por mim.

Tranquei a porta. Mãos ao corrimão.

- Olá, cara.

O vizinho do meu quarto. É engraçado como seu olho direito é sempre três vezes maior que o esquerdo. É engraçado como toda a sujeira daquela espelunca se reúne no corrimão. Os moleques, já impacientes, se apressam a me ver.

- O que estava fazendo? Precisamos passar o som.

Eu não preciso passar som nenhum. Eu toco gaita e apenas preciso de um microfone sem microfonia. Alberto, o garçom do bar onde vamos tocar, já providenciou esse microfone; então estou pronto para o nosso show.

- Essa é a nossa oportunidade. O bar é bacana, alguns produtores sempre aparecem por lá nas sextas-feiras. Podemos sair de lá com alguma conversa marcada.

Quem disse isso foi Marques, o guitarrista da nossa banda de blues. Marques tinha habilidades para tocar guitarra. O triste era perceber sua semelhança com um robô ao tocar blues. Solos previsíveis. Tudo bem, eu não sou um gaitista virtuoso. E tocar com aqueles caras me fazia bem. Ter uma banda significa conhecer algumas pessoas, ter alguns lugares para tomar uma cerveja, alguém para arranjar uma erva, ter algumas meninas de vez em quando. Em resumo: ter uma vida adolescente aparentemente normal. Eu preciso disso.

O bar do Jaques sempre fora movimentado nos fins de semana. Alberto, o garçom, sempre selecionava bandas capazes de fazer uma apresentação minimamente razoável para tocar no bar. É o sonho de qualquer banda iniciante da cidade tocar no bar do Jaques, mesmo a única garantia que se tinha ao tocar no Jaques era ganhar uma caixa de cerveja ao final da apresentação. É claro que tendo grana, é possível dormir com alguma prostituta da casa em um dos quartos que ficava no andar de cima do bar. Antes mesmo de chegar já dava para sentir aquele velho cheiro de sexo. Essa é a nossa primeira apresentação no bar do Jaques. Nossa quinta apresentação.

terça-feira, 17 de março de 2009

Contida Liberdade

Interminavelmente, uma mudança aguda
Dentro da minha contida liberdade
Felicidade
Provou não ser imprópria ou fajuta
Ela caminha na minha direção
Eu caminho sobre alguma estação

Dobrando novas avenidas sem entender
Quantas serão precisas para aprender?
Dentro da minha contida liberdade
Felicidade
Provou não ser imprópria ou vagabunda

Tenho fogo caminhando em minhas mãos
Não é preciso provar que não passa de armação
Felicidade
Você me prometeu construir verdades

Não passa de uma noite sentado no telhado
É tudo imaginação, é tudo pensamento
Espero o frio da noite me secar do molhado
Para voltar a dormir no meu quarto.

sábado, 14 de março de 2009

Refúgio

Não quero fazer você sentir alegria
Tenho a lhe oferecer bem mais que felicidade
Se eu a convidasse para um passeio, você iria?

Vamos navegar nessa barca por toda eternidade
Não sinta medo desse frio profundo
Esse lugar é uma outra realidade
Venha, vamos navegar por esse novo mundo

O paraíso dos sonhos é o nosso abrigo
Aqui não há problemas ou tabus, nada existe
Esse lugar é o meu refúgio e é seu amigo
Um lugar livre de religiões
Onde o nosso pensamento consiste.

quarta-feira, 11 de março de 2009

II Epílogo: A Viagem

Um bom gole daquele líquido azulado e gelado para me aliviar das tensões, por momentos cronologicamente minúsculos, enfaticamente eternizados naquela parada. A cronologia perde o bom senso diante daquele homem chamado Acusador. Outro bom gole daquele veneno azul e gelado, para que eu pudesse apreciar a agonia de uma noite inteira e sentir o término da aflição com o nascente do sol.

Naquele momento da viagem eu já não mais queria sentir a luz brilhante do sol exacerbando os meus olhos. Mais tarde, eu aprendi que essa mesma luz se traduz como um início que jaz o fim. As luzes soam delírios.

Tudo se passava pela minha mente: a partida, a queda, a generosidade, a partilha, a viagem. Cada quesito desse citado é um capítulo da minha história. Cito a viagem agora, pois a cronologia perde o bom senso diante daquele homem chamado Acusador.

Lembro quando aquele veículo intenso e denso embarcou; já havia homens embarcados. Era apenas a minha vez de subir, sentar-me próximo à janela e olhar a paisagem selvagem que aquela viagem me proporcionaria. Selvagem é o melhor adjetivo para aquela viagem única. Naquele ônibus não era preciso ceder lugar a velhos, grávidas ou aleijados, pois todos tinham o direito de sentar-se à janela, com o direito sublime de ver toda a paisagem daquela viagem selvagem. Todos ali viviam com seus próprios recursos. Todos tinham o recurso de fazer aquela viagem, bastaria querer.

O ônibus acelerou. Todos calados durante a viagem, todos flutuando em ideias. Como seria chegar lá? Há tanto tempo sonhava com isso, sempre intrigado, questionando todas as fantasias. E o que vejo? Flores vermelhas! É totalmente fantasioso... É real. Eu presenciei o imaginável que eu questionava. Havia homens e mulheres e deformados a bordo, eu era apenas mais um. Apenas mais um. Como era real, todos eram apenas mais um. Como era real!

A estrada, contraditoriamente como dita nos livros, não era uma descida, embora houvesse sim descidas. Entretanto, havia subidas e curvas, e sempre que eu olhava para a janela, eu via flores, em sua maioria vermelhas; mas às vezes via amarelas, azuis, roxas. O chão era verde. A paisagem, no contexto, era colorida, como o chapéu do motorista. Ele sempre estava sorrindo, mesmo mantendo sua expressão séria. Todos permaneceram calados durante toda a sua viagem. Vários pararam antes de mim. O mais nítido é que cada vez que o motorista parava o ônibus e dizia o nome de quem deveria descer, os olhos dos outros passageiros brilhavam. Todos estavam embriagados com aquela viagem.

Tomei outro gole daquela bebida azul e gelada.

Sempre houve tolos que jamais foram perturbados por não darem-se conta de suas próprias tolices. Eu nunca saberei dizer até quando o mesmo tolo estará afundando nesse poço miserável. O vento dançava lá fora. Naquele mundo os elementos pareciam ser jovens.

Pela primeira e última vez o motorista falou algo além dos nomes dos passageiros que haviam chegado ao fim da linha da sua viagem: “todos dançam ao lado de fora, essa sempre foi a regra”.

domingo, 8 de março de 2009

Olha para Cá


O cheiro doce da infância,
Os cabelos que esvoaçam ao vento.
Se me deu esperança,
Mas eu permaneci parado, atento.
Com vontade de ser tocado pelos seus dedos,
E dentro de mim, sentindo medo
De ser encarado por aquele olhar meigo.

E se ela é tão linda e eu tão feio,
O pessimista diria que não há meio.
Mas mesmo eu, que não sou interesseiro,
Tenho meus motivos, de qualquer jeito.

E não há nada a fazer que eu não tenha feito,
Só quero um pedaço do inteiro,
E experimentar, de olhos fechados, um beijo,
Que anotei num pedaço de papel que vou lhe entregar,
Sugerindo que você olhe para cá.

sexta-feira, 6 de março de 2009

I Epílogo: O Trato

Primeira linha do Tratado sobre o Trato: o trato aguça.

Segunda linha: o trato desperta.

"Pois bem, meu caro, sei que veio das mais longes terras para falar comigo; afinal, moro nas terras mais distantes. Sente-se, camarada. Quer uma donzela? Não? Não aceito a recusa de um bom vinho. Eis o sangue de Cristo. Bafore um pouco o cachimbo.".

Terceira linha: o trato seduz.

"É claro que cada um vive com seus próprios recursos. Eu sou sensível o bastante para perceber que você se esconde sob o seu manto, mas à noite você desaba suas fraquezas no travesseiro. Sua lágrima é a única fonte de água para regar o seu jardim.".

Ele, enigmático, continua:

"O cachimbo está bom? Bem, eu gostaria muito contar a minha história. Na minha versão, é claro. Mas seria falta de delicadeza contigo; você veio até mim para eu lhe ajudar. Se sente melhor agora?".

Quarta linha sobre o trato: o trato é poético:

"A primeira, digamos, percepção que o senhor deve ter é a de que a sua vida é uma sinfonia. Existe um maestro, que ainda não é você. Você ser o maestro faz parte do nosso acordo; o que eu quero que o senhor entenda agora é que você deve deixar as flautas flutuarem sobre a sua alma, e os violinos a violarem. Essa é a parte mais importante."

Quinta linha: o trato é um caçador:

"Uma vez um miserável disse a outro, gargalhando de embriaguez: 'você está furioso? Oh.. Você é apenas mais um rato engaiolado'. Esse miserável entendeu o trato. Eu quero que o senhor pense sobre isso. Deixarei você sozinho.".

Sexta linha sobre o trato: O trato liberta.

"Pois vejo que o senhor ainda está aqui. Uma última frase e você entenderá o trato: 'luzes soam delírios.'"

O viajante diz: "senhor, o verdadeiro trato não é libertino."

O Sábio sorri sereno.

Sétima linha do Tratado sobre o Trato: o trato se firma.

terça-feira, 3 de março de 2009

Simpatia

Tenho a atenção dessa simpatia como não tinha antes
Posso algo com essa simpatia, ainda descubro
Se no passado éramos apenas figurantes
Hoje somos aquilo que sonhávamos para o futuro

Presenciando essa simpatia, meus sonhos refletem você
Agora que você olha nos meus olhos, sou mais do mesmo
Presenciando sua simpatia, eu posso explodir e viver
Sem tantos animais em volta procurando me deixar preso

Vivendo essa simpatia, prometo ser realidade
Posso algo com essa simpatia, ainda descubro
Um grão de areia que se perde sobre a verdade
Transformando-se naquilo que sonhávamos para o futuro

Os papéis montam e demonstram o que pode acontecer
Deixando flutuar tudo aquilo que eu já sentia
E é tudo isso aqui escrito somente para você
Ainda descubro que posso algo com essa simpatia

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Eumicela - I Carta

Poderia novamente escrever sobre sexo, mas meu estômago dói e, enfim. 

Eu só preciso de um fim. De um leutono, de um bom leutono; é tudo que eu preciso. Tudo certo. Você simplesmente fode comigo a todo instante. Fode e fode; ela não resiste. Eu tento ou, bem... Tento tentar. 

Sozinho; já se sentiu assim, Eumicela? Você nasceu sozinho, meu nobre cowboy, e o meu corpo é grande demais para nós. Nunca fizemos nada. Nem tudo, nem nada; nem mesmo a pobre Zurrapa.

Bem, sem delongas: problemas! Você de novo, meu nobre cowboy... E agora? Vamos deslizar sobre a maré, vamos nadar sobre a lua?

Foda-se tudo, nós precisamos continuar com isto.

Precisamos, mas o barco está em chamas. E agora?

Ou você se decepciona, ou você decepciona. E a culpa não é sua. Você não fez nada, você não está errado; apenas descobriu o descoberto que ninguém ainda descobriu, mas que um dia será descoberto. E agora? Maravilhado e confuso? Não... Náuseas e confusões. "Isso não é problema seu". De quem seria?

Maldição...

E agora?

Eumicela, um pouco mais, por favor. Venha cá meu amigo, sente-se. O que faço? Há quanto tempo não faço essa pergunta? Hein, madame Satã... O que faço?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Rádio 4:36

Boa noite, demônios! São 4:36 e vocês ainda têm alguns instantes até o momento em que o sol queimará a todos. Ninguém aqui ainda sentiu a pele formigar em uma chama de fogo.

É apenas mais uma noite de muita droga: todos vocês têm olhos de cocaína; e os seus balanços são de aloprados anfetaminados.

Bando de escrotos, são o que vocês são!

Berra saxofone; berra ao chamado que clama seus filhos escuros. Terrible Nix.

Bom... Nessa noite apenas uma pergunta a vocês, meus espectadores adorados: vocês me veem batendo?

Ah! E é claro também, deixarei uma frase: "a linha nunca mente... 'She doesn't lie, she doesn't lie…'"

Fiquem com Deus.

Gargalhadas. Ecoam...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Chamas de um Anjo

Eu cheguei nesse lugar estranho não tem uma hora direito
Eu olhei em volta e vi que eu estava correndo perigo
Onde está aquela garota que declamava no meu ouvido no banheiro?
Será que ela era mesmo uma moça ou apenas um anjo perdido?

Ela era uma moça, aquele domingo à tarde, em direção ao meu copo
Estava ela mesma chateada ou eu com algum pensamento remoto?
Eu caminhava em sua direção enquanto percebia seu olhar erótico

Vamos hoje fazer coisas que até então eram desconhecidas
E não será apenas seu cabelo cor de fogo que terá essa característica
A impressão que eu tenho é que seu corpo está coberto de chamas, querida

O nosso leito está agora todo coberto pelo fogo
E não há nada para provar sobre minhas palavras
Porque você sabe que não sou nenhum mentiroso
E eu sei o porquê das suas mágoas

Imagine que isso seja uma viagem e que estejamos com o pé na estrada.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Desejo, Desejo

Se um dia eu pudesse ver os seus segredos
Eu os costuraria com agulha de tecer
Nuvens cinzas que parem relampejos
Até um novo sol nascer
De dentro dos seus beijos

Desejo, desejo
O desejo é livre
De você, inclusive

Suas mãos dedilham como uma aranha
Anestesiada no próprio veneno
Mãos de loucos fazem façanhas
Dissolvem suas tristezas no tolueno

Meus dedos são dormentes, elétricos
Caminham pelo vento sem o meu comando
Perseguem, por instinto, seu corpo tétrico
Encontram os seus desejos de grunhidos fanhos

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Passeio

Um bom gole de veneno para agonizar a noite inteira e sentir o fim da aflição com o nascente do sol, com a luz brilhante exacerbando meus olhos. Como no início que jaz o fim: a partida, a queda, a generosidade, a partilha, a viagem.

Agora, diante do embarque, onde não é necessário ceder o lugar para os idosos, pois todos têm direito de sentar-se à janela, com o direito sublime de ver toda a paisagem da viagem. Todos calados durante a viagem, todos flutuando em ideias. Suspiros...

Flores vermelhas! Fantástico, real. Há homens e mulheres e deformados a bordo, eu sou apenas mais um. Apenas mais um. É real, todos aqui são apenas mais um. É real. Olhares....

A estrada - contraditoriamente como falado - não é uma descida, embora haja sim descidas. Há, no entanto, subidas e curvas, e sempre que olho para a janela flores vermelhas. Às vezes amarelas, azuis, roxas.

O chão é verde. É colorido, como o chapéu do motorista. Ele sempre está sorrindo, mesmo mantendo sua expressão séria. Todos permanecem calados. Há olhos que brilham. Sempre houve tolos que jamais foram perturbados por não se darem conta de suas próprias tolices. O vento dança lá fora...

Todos dançam do lado de fora, essa sempre foi a regra...

É apenas mais uma noite, apenas mais uma declaração de delírio. Amanhã, quando o nascente do sol se levantar, ficaremos bem.

Eu prometo, eu prometo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Conduza-me

Ela dança como se a terra estivesse chacoalhando. E, na verdade, o chão está mesmo tremendo. O céu também treme, pois olho os prédios e os vejo dançando ao luar. Enquanto isso, as metamorfoses das árvores pairam lá fora. E tudo que ela faz aqui dentro é dançar; dançar até os músculos de suas coxas fermentarem o ácido da dor.

Noto que cada vez que sua cintura requebra, uma cerâmica do chão se espedaça; e os meus olhos bambeiam com aquele tilintar sensual. Digo que estou embriagado com a leveza destruidora daquela dançarina.

As batidas da música soam progressivamente mais fortes; talvez no ritmo do meu desejo, ou talvez não tanto. Sei que ela dança se aproximando de mim, porque a cada segundo morto sua boca aveludada adquire mais vida; e me parece sempre mais saborosa. Então eu penso que talvez seja interessante matar alguns segundos.

Agora ela está rente a mim, a uma distância mínima; assim como eu, que estou no limiar da minha sanidade. O relógio na parede diz que já matamos muito tempo. Ela não tem pressa, apenas seduz o terremoto com sua cintura.

Ela mantém a coluna ereta; e apoia seu joelho no dorso da minha coxa. Ela se equilibra com as mãos nos meus ombros. Em um gesto provocante, ela sugere que eu sinta o cheiro da sua pele. Ela não deixa que eu a toque; que somente eu seja tocado. Seu joelho escorrega pelo lado de fora da minha coxa, e sinto seu busto aproximar dos meus olhos. Uma mordida nos lábios me escapa. Talvez seja a última partícula de sanidade fugindo de mim.

Envolva seu cabelo ao redor da minha pele.

Ela se encaixa com perfeição em mim. Montada em mim, sentado. Ela segura o meu queixo e diz perto de mim - sinto o hálito quente formigar na minha boca: “Agora... Vamos nos destruir, meu bem”.