sexta-feira, 13 de maio de 2005

Conduza-me

Ela dança como se a terra estivesse chacoalhando. E na verdade o chão está mesmo tremendo. O céu também treme, pois olho os prédios e os vejo dançando ao luar. Enquanto isso, as metamorfoses das árvores pairam lá fora. E tudo que ela faz aqui dentro é dançar; dançar até os músculos de suas coxas fermentarem o ácido da dor.

Noto que cada vez que sua cintura requebra, uma cerâmica do chão se espedaça; e os meus olhos bambeiam com aquele tilintar sensual. Digo que estou embriagado com a leveza destruidora daquela dançarina.

As batidas da música soam progressivamente mais fortes; talvez no ritmo do meu desejo, ou talvez não tanto. Sei que ela dança se aproximando de mim, porque a cada segundo morto sua boca aveludada adquire mais vida; e me parece sempre mais saborosa. Então eu penso que talvez seja interessante matar alguns segundos.

Agora ela está rente a mim, a uma distância mínima; assim como eu, que estou no limiar da minha sanidade. O relógio na parede diz que já matamos muito tempo. Ela não tem pressa, apenas seduz o terremoto com sua cintura.

Ela mantém a coluna ereta; e apoia seu joelho no dorso da minha coxa. Ela se equilibra com as mãos nos meus ombros. Em um gesto provocante ela sugere que eu sinta o cheiro da sua pele. Ela não deixa que eu a toque; que somente eu seja tocado. Seu joelho escorrega pelo lado de fora da minha coxa, e sinto seu busto aproximar dos meus olhos. Uma mordida nos lábios me escapa. Talvez seja a última partícula de sanidade fugindo de mim.

Envolva seu cabelo ao redor da minha pele.

Ela se encaixa com perfeição em mim. Montada em mim, sentado. Ela segura o meu queixo e diz perto de mim - sinto o hálito quente formigar na minha boca: “agora... Vamos nos destruir, meu bem”.