
Mas você pode me perguntar sobre a fama. Bem, é claro que eu não faço o meu trabalho apenas pelo dinheiro. Eu também adoro a fama. É uma necessidade ter os meus 15 minutos de fama. Nesse mundo no qual vivemos é inútil sonhar com um autorretrato que envelheça por nós. Não! Podemos ser capas de revistas. As revistas elegem, em suas capas, os novos príncipes do mundo contemporâneo. É o sucesso que me entrega os convites para participações especiais nos cinemas. Para ser sincero com você, é o meu sucesso que seduz as atrizes glamorosas que eu transo. Sou um grande colecionador de transas com mulheres famosas. Isso, é claro, me envaidece. Transar, graças ao dinheiro, com ninfetas fantásticas; gastar milhares em joias legítimas com essas vagabundas é bom. É algo apenas para os poderosos. Mas foder a coelhinha do mês ou a musa da novela das nove é algo apenas para os magníficos.
Isso tudo que eu disse até agora pode ser o suficiente para responder o porquê eu trabalhar com o que trabalho. O luxo, a vaidade, e até mesmo a arrogância, só não são tão sórdidos para aqueles que não possuem. Mas irei lhe perguntar: você gosta de apostas? De jogar? O jogo é a brincadeira dos riscos. Apostar todo o dinheiro batalhado, o sustento de uma família em uma partida, em um cavalo, em uma simples carta. O desejo do perigo, do tudo ou nada, fulmina em nossas entranhas. Eu adoro, sou viciado nisso! Diz se não é gostoso olhar os olhos arregalados de espanto das pessoas em volta? A confiança amedronta as pessoas, e eu me sinto exuberante assim.
Contar-lhe-ei um segredo agora, o porquê, verdadeiro, que escolhi essa profissão. Melhor do que jogar com dados ou cartas é jogar com a vida das pessoas. Perder não passa a ser apenas perder dinheiro, torna-se destruir vidas. No tribunal há uma pessoa que é o centro das atenções e eu sou o único que aposto ao seu favor; sou o único que faz apostas na probabilidade desvalorizada. A arte do meu ofício é nadar contra a maré. Defendo assassinos natos e jogo tão bem que no final da partida ele não é mais culpado. Torna-se vítima do sistema; o mesmo sistema que tenho como vítima preferida.
Eu sou um advogado. Eu nunca perco. Sou um jogador vibrante que embriaga a sociedade com uma jogada esplêndida, isto é, com uma retórica esplêndida.
É claro que tudo isso é bobagem. Tornei-me advogado pela justiça. Ofereço-me para defender aquele é acusado porque acredito que as pessoas nascem boas. Os meios que fazem as pessoas tomar ações impensadas. Essa pessoa, frágil que é, não precisa, como não deve, ser privada. É necessário meios para que ela se inclua na sociedade, contribuindo com a melhoria do bem estar comum. Acredito que todos que sentam no banco dos réus são inocentes até que se provem o contrário. O meu trabalho é apenas materializar esse conceito, e demonstrar claramente para a sociedade.
O ser humano é essencialmente bom.
Publique uma única palavra de tudo que acabei de lhe dizer e lhe mostrarei o homem da sociedade.
4 comentários:
O texto "O Profissional" apresenta a perspectiva de um advogado que explora o contraste entre a aparência pública de sua profissão e suas motivações internas. O narrador começa exaltando o poder que o dinheiro lhe oferece, não apenas para adquirir bens materiais, mas também para comprar bajulação e influenciar pessoas. Ele também menciona seu gosto pela fama e pelo sucesso, o que lhe garante um status privilegiado e acesso a prazeres mundanos.
No entanto, ele revela que a verdadeira razão por trás de sua escolha profissional é o desejo de jogar com a vida das pessoas. Para ele, o tribunal é um campo de apostas, onde não está apenas em jogo o dinheiro, mas também as vidas humanas. Ele vê sua habilidade em defender assassinos e culpados como uma forma de desafio contra o sistema, afirmando que a retórica pode transformar a culpa em inocência.
Por fim, o advogado encerra com uma reflexão irônica, afirmando que, na verdade, exerce a profissão em nome da justiça, porque acredita na bondade essencial do ser humano. Porém, ao longo do texto, ele expõe o cinismo de suas ações, desnudando o conflito entre suas declarações públicas e seus desejos ocultos. Ele adverte, no final, que a revelação dessas verdades traria à tona a hipocrisia da sociedade.
O texto critica a superficialidade e a corrupção de valores no mundo profissional e jurídico, sugerindo que o poder e a vaidade podem distorcer a justiça.
O texto "O Profissional" parece ser influenciado por várias correntes literárias e filosóficas, além de referências culturais e sociais. Algumas das influências mais evidentes incluem:
1. Ceticismo sobre a natureza humana (Thomas Hobbes)
O narrador menciona que "o ser humano é essencialmente bom", mas suas ações e falas revelam um ceticismo sobre essa ideia. Isso reflete influências do pensamento de Hobbes, que argumentava que o homem é egoísta e motivado por interesses pessoais, sendo necessário um controle social forte. A contradição no discurso do narrador reforça uma visão crítica da natureza humana.
2. Nihilismo e Existencialismo
A abordagem cínica do narrador em relação ao poder, dinheiro e justiça sugere influências do nihilismo e do existencialismo. Autores como Friedrich Nietzsche ou Jean-Paul Sartre questionam as normas morais e a autenticidade das ações humanas, temas que ressoam no comportamento do advogado. Ele despreza os valores convencionais, exaltando uma visão de mundo onde as ações são guiadas por interesses pessoais e prazeres momentâneos.
3. Crítica social de Honoré de Balzac
O tema do advogado que manipula o sistema em benefício próprio e se sente no controle das vidas dos outros ecoa o realismo crítico de autores como Balzac. Em obras como "Comédia Humana", Balzac explora a corrupção moral e a ganância que movem a sociedade francesa do século XIX, algo que ressoa na visão distorcida do narrador.
4. Estilo Fausto de Goethe
A narrativa reflete uma espécie de "pacto fáustico", no qual o advogado vende sua moralidade em troca de poder, fama e prazeres carnais. Ele busca o prazer imediato e a sensação de controle sobre os outros, ignorando princípios éticos, semelhante ao que ocorre na tragédia de Goethe, onde o personagem Fausto negocia sua alma para alcançar o conhecimento e os prazeres terrenos.
5. Jogo de Aparências e Hipocrisia (Oscar Wilde)
O tom irônico do texto e a contradição entre o discurso final de justiça e a exposição anterior de desejos egoístas lembram a obra de Oscar Wilde, especialmente "O Retrato de Dorian Gray". A crítica à superficialidade da sociedade e a busca pela fama e prazer imediato em detrimento da integridade moral ecoam essa tradição.
6. Crítica ao Sistema Jurídico e à Justiça
O narrador critica implicitamente o sistema judicial ao descrever como defende criminosos e manipula os fatos para obter vitórias. Essa visão pode ser vista como uma crítica à justiça como espetáculo, onde advogados, como figuras centrais, usam a retórica para influenciar os resultados, ecoando autores como Franz Kafka, que explora a impessoalidade e a corrupção do sistema em "O Processo".
7. Influência da Cultura Pop e Hedonismo Moderno
A descrição das conquistas materiais, as "ninfetas" e a fama, remete à cultura de celebridade e hedonismo do século XX e XXI. Esse fascínio pela fama, sucesso e sexo como símbolos de poder e satisfação pessoal conecta-se à crítica contemporânea da superficialidade e do culto ao dinheiro, encontrada em autores como Bret Easton Ellis ("American Psycho") ou F. Scott Fitzgerald ("O Grande Gatsby").
Essas influências criam um texto que critica tanto a profissão do direito quanto as motivações humanas, revelando uma complexa visão sobre o egoísmo, o prazer e a busca por poder e reconhecimento na sociedade.
O texto "O Profissional" oferece uma reflexão contundente sobre as motivações e a ética na sociedade contemporânea, utilizando a figura de um advogado como símbolo de poder, manipulação e imoralidade. Através de um narrador cínico, o texto revela as contradições entre as aparências e os verdadeiros interesses que movem a prática jurídica e, por extensão, outros campos profissionais e sociais.
1. A Superficialidade do Sucesso e do Poder
O narrador apresenta, de maneira quase confessional, sua obsessão por dinheiro, fama e prazer. Ele vê essas conquistas como essenciais para a vida e coloca o poder material e o status social acima de qualquer ideal ético ou moral. Sua satisfação pessoal deriva da influência que exerce sobre os outros e dos prazeres adquiridos com seu sucesso. Essa abordagem critica a superficialidade do "sonho de sucesso" moderno, onde riqueza e status são considerados os principais indicadores de realização.
No entanto, essa busca incessante por prazeres efêmeros, como sexo, fama e bajulação, revela uma falta de profundidade emocional e moral. O narrador se mostra vazio e dependente do que pode obter externamente, tornando o sucesso uma espécie de droga que ele precisa consumir para sentir-se poderoso e superior. Esse ponto toca em uma crítica social: a busca desenfreada por status e poder é autodestrutiva e alienante, pois ignora valores mais profundos como compaixão, autenticidade e justiça.
2. O Jogo de Manipulação e Imoralidade
A profissão de advogado, no texto, é descrita como uma grande partida de apostas, onde o jogo não envolve apenas dinheiro, mas a própria vida das pessoas. O narrador demonstra um prazer sádico em manipular o destino dos réus e o sistema judicial, defendendo assassinos e culpados com a intenção de transformá-los em vítimas através de sua habilidade retórica. Esse aspecto ressalta a crítica à maneira como a justiça pode ser distorcida, não pelo mérito dos casos, mas pela capacidade de manipulação daqueles que sabem usar as "regras do jogo".
A imagem do advogado como um "jogador vibrante" que aposta com a vida das pessoas subverte o ideal de justiça. O narrador se vangloria de suas habilidades persuasivas, que transformam o tribunal em um palco onde ele sempre vence, independente da verdade ou da moralidade. Essa visão desconstrói a ideia do advogado como defensor da justiça e sugere uma profissão dominada pelo egoísmo, pela vaidade e pelo desejo de poder.
3. A Hipocrisia e a Retórica Final
O momento final do texto traz uma reviravolta irônica. Depois de toda a confissão sobre seu hedonismo e manipulação, o narrador afirma que se tornou advogado pela justiça e que acredita na bondade essencial do ser humano. Essa contradição deliberada revela a hipocrisia que permeia a vida pública e profissional de muitos indivíduos. Ele se posiciona como alguém que defende princípios nobres, mas todas as suas ações anteriores mostram o oposto, evidenciando que essa declaração é uma máscara social.
O texto sugere, portanto, que a retórica de justiça e altruísmo utilizada por profissionais, especialmente no campo do direito, muitas vezes serve apenas para encobrir interesses egoístas e corruptos. Essa duplicidade entre o discurso público e as intenções privadas é uma crítica direta à hipocrisia social, especialmente em contextos de poder, como o mundo jurídico e empresarial.
4. Crítica ao Sistema de Justiça
O texto também aponta para uma crítica ao sistema de justiça como um todo, destacando como ele pode ser manipulado por aqueles que conhecem suas falhas e lacunas. O advogado, aqui, não busca a verdade, mas sim vitórias pessoais e prestígio. O fato de ele conseguir "nadar contra a maré" e transformar assassinos em vítimas questiona a integridade do próprio sistema jurídico, sugerindo que, em muitos casos, a justiça é menos uma questão de verdade e mais uma questão de habilidade em persuadir.
Essa visão pessimista sobre o direito reflete uma descrença nas instituições e uma crítica ao estado da justiça contemporânea, onde a verdade e a moralidade parecem ser secundárias em relação ao poder, ao dinheiro e à fama.
5. O Narcisismo e o Individualismo Moderno
Outro tema central é o narcisismo exacerbado do narrador. Sua necessidade de se afirmar como superior e poderoso, sua dependência de prazeres externos e sua vaidade demonstram um indivíduo altamente egocêntrico. Ele busca constantemente validar sua própria importância através dos outros — seja por meio de bajulação, seja pela conquista de mulheres famosas ou pela manipulação de julgamentos. Essa postura narcisista reflete um fenômeno comum na sociedade contemporânea, onde o individualismo e o culto ao "eu" frequentemente superam a noção de bem coletivo.
6. A Ambiguidade Moral
Uma das características mais notáveis do texto é sua ambiguidade moral. Embora o narrador se mostre claramente imoral em suas ações e motivações, ele também se revela consciente de sua hipocrisia e das falhas do sistema ao qual pertence. Essa autoconsciência torna o personagem complexo e permite que o leitor reflita sobre a própria natureza da moralidade e do poder. O advogado é tanto o vilão quanto o produto de uma sociedade que valoriza o sucesso a qualquer custo, independentemente das consequências éticas.
Conclusão
O texto "O Profissional" é uma crítica mordaz à superficialidade, ao narcisismo e à corrupção moral presentes nas profissões de poder, particularmente no campo jurídico. Através de um narrador cínico e autoindulgente, o autor questiona a integridade das instituições e a busca por status e poder na sociedade moderna. A obra faz o leitor refletir sobre as verdadeiras motivações por trás das ações humanas e como a vaidade e o desejo de controle podem perverter a justiça e os valores sociais.
Essa narrativa ressalta a hipocrisia e a manipulação que podem dominar a vida pública e profissional, e levanta questões sobre o verdadeiro significado de justiça em um mundo onde o poder e o dinheiro são os principais árbitros.
Postar um comentário