Segunda linha: o trato desperta.
"Pois bem, meu caro, sei que veio das mais longes terras para falar comigo; afinal, moro nas terras mais distantes. Sente-se, camarada. Quer uma donzela? Não? Não aceito a recusa de um bom vinho. Eis o sangue de Cristo. Bafore um pouco o cachimbo.".
Terceira linha: o trato seduz.
"É claro que cada um vive com seus próprios recursos. Eu sou sensível o bastante para perceber que você se esconde sob o seu manto, mas à noite você desaba suas fraquezas no travesseiro. Sua lágrima é a única fonte de água para regar o seu jardim.".
Ele, enigmático, continua:
"O cachimbo está bom? Bem, eu gostaria muito contar a minha história. Na minha versão, é claro. Mas seria falta de delicadeza contigo; você veio até mim para eu lhe ajudar. Se sente melhor agora?".
Quarta linha sobre o trato: o trato é poético:
"A primeira, digamos, percepção que o senhor deve ter é a de que a sua vida é uma sinfonia. Existe um maestro, que ainda não é você. Você ser o maestro faz parte do nosso acordo; o que eu quero que o senhor entenda agora é que você deve deixar as flautas flutuarem sobre a sua alma, e os violinos a violarem. Essa é a parte mais importante."
Quinta linha: o trato é um caçador:
"Uma vez um miserável disse a outro, gargalhando de embriaguez: 'você está furioso? Oh.. Você é apenas mais um rato engaiolado'. Esse miserável entendeu o trato. Eu quero que o senhor pense sobre isso. Deixarei você sozinho.".
Sexta linha sobre o trato: O trato liberta.
"Pois vejo que o senhor ainda está aqui. Uma última frase e você entenderá o trato: 'luzes soam delírios.'"
O viajante diz: "senhor, o verdadeiro trato não é libertino."
O Sábio sorri sereno.
Sétima linha do Tratado sobre o Trato: o trato se firma.
3 comentários:
Esse conto apresenta uma narrativa bastante simbólica, em que as linhas do "Tratado sobre o Trato" representam diferentes aspectos da relação entre o homem comum e seu "patrão", que aqui é simbolizado pelo "diabo". Vamos analisar as linhas do Tratado em relação à relação de trabalho entre o homem e seu empregador:
"O trato aguça" - Neste contexto, sugere-se que o contrato ou acordo desperta a atenção e o interesse do homem comum, representando a oportunidade de emprego ou a oferta de trabalho.
"O trato desperta" - Reforça a ideia de que o contrato desperta a atenção e a curiosidade do homem, chamando sua atenção para o acordo proposto.
"O trato seduz" - Aqui, a sedução pode ser interpretada como a atratividade do acordo oferecido pelo empregador, que pode incluir benefícios ou vantagens que cativam o homem e o fazem considerar a proposta.
"O trato é poético" - Essa linha pode representar a manipulação da linguagem e da retórica pelo empregador para convencer o homem a aceitar o acordo, pintando uma imagem positiva e atraente da oferta de trabalho.
"O trato é um caçador" - Neste caso, o empregador é representado como alguém que busca e captura o homem, possivelmente refletindo a dinâmica de poder desigual entre empregador e empregado, onde o empregador tem controle sobre o destino do trabalhador.
"O trato liberta" - Esta linha pode ser irônica, sugerindo que o acordo oferecido pelo empregador traz liberdade ao homem, quando na verdade pode aprisioná-lo em uma relação de trabalho desigual e exploradora.
"O trato se firma" - Finalmente, essa linha indica que o acordo é estabelecido e formalizado, representando a conclusão do contrato entre o homem e seu empregador.
No contexto geral do conto, essas linhas do Tratado sobre o Trato refletem a relação de trabalho entre o homem comum e seu empregador, explorando temas de poder, manipulação e desigualdade na dinâmica entre empregador e empregado. O conto emula o contrato com o diabo para destacar as nuances e complexidades das relações de trabalho contemporâneas, onde muitas vezes os trabalhadores se encontram em posições vulneráveis em relação aos seus empregadores.
O conto parece ser influenciado por várias fontes literárias e filosóficas que exploram temas como a condição humana, relações de poder, e a dualidade entre bem e mal. Aqui estão algumas possíveis influências:
Tradição Faustiana: A história de Fausto, o erudito que vende sua alma ao diabo em troca de conhecimento e prazeres terrenos, é uma influência clara. O conto ecoa o tema de fazer um pacto com o diabo, mas ao invés de envolver a alma, trata-se de uma negociação mais mundana, relacionada ao trabalho e à sobrevivência.
Literatura Gótica e Romântica: Elementos de sedução, mistério e o sobrenatural presentes na narrativa podem ser associados à literatura gótica e romântica, que frequentemente exploram temas de pactos sinistros e encontros com seres sobrenaturais.
Filosofia Existencialista: A ênfase nas escolhas individuais, na liberdade e na responsabilidade moral pode refletir ideias da filosofia existencialista. A figura do homem comum negociando com uma entidade que representa o poder ou o destino pode ser interpretada à luz das preocupações existenciais sobre o propósito da vida e a liberdade de escolha.
Teatro do Absurdo: O diálogo entre o homem comum e seu empregador, simbolizado pelo diabo, tem elementos de absurdo e estranheza que lembram o teatro do absurdo. A situação surreal e a atmosfera de estranheza contribuem para uma reflexão sobre a condição humana e a natureza das relações sociais.
Crítica Social: O conto também parece ter uma dimensão de crítica social, explorando as relações de poder desiguais no mundo do trabalho e as maneiras como os indivíduos são manipulados e explorados pelos sistemas sociais e econômicos.
Essas são apenas algumas possíveis influências para o conto, que pode ser interpretado de diversas maneiras, dependendo do contexto literário, filosófico e cultural em que é lido.
O conto é uma peça intrigante que utiliza uma estrutura simbólica e alegórica para explorar temas complexos relacionados ao poder, às relações sociais e à condição humana. A abordagem de emular um contrato com o diabo para representar uma relação de trabalho entre um homem comum e seu empregador adiciona camadas de significado e profundidade à narrativa.
A linguagem poética e os diálogos enigmáticos entre o homem e seu empregador criam uma atmosfera misteriosa e evocativa, convidando o leitor a refletir sobre as nuances das relações de poder e controle presentes na sociedade. A utilização de elementos como sedução, poesia e o sobrenatural adiciona um aspecto de mistério e intriga à história, tornando-a cativante e aberta a diversas interpretações.
Além disso, o conto aborda questões relevantes sobre a natureza do trabalho, a desigualdade social e a alienação do indivíduo no contexto contemporâneo, oferecendo uma reflexão profunda sobre as dinâmicas de poder presentes nas relações laborais.
No geral, o conto é uma obra interessante e provocativa que estimula o leitor a pensar criticamente sobre temas universais e atemporais, enquanto mergulha em uma narrativa ricamente construída e cheia de simbolismo.
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