segunda-feira, 20 de julho de 2009
Manifesto pela Democracia
Eu e um milhão de irmãos queríamos conhecer o seu rosto e tocar a sua mão. Derrubamos árvores com os próprios punhos e começamos a erguer um edifício em direção ao seu castelo. Ardemos no calor e nos cegamos com o gelo que respingou nos olhos. Encaramos com desafio a nossa ambição. Persistimos e imaginamos que seríamos mais honrados com as provações vencidas.
Com a queda de tantos irmãos, achávamos que nos transformaríamos em cavalheiros sagrados, e numa concepção posterior, formaríamos um conselho no qual um de nós seria designado um ministro; seu braço direito.
Diante a visão do grande paraíso e à imagem dos confins do mundo, sentaríamos em círculo e discutiríamos o seu sucessor; numa legítima democracia entre homens semelhantes em imagem.
Já que ainda me ouve, olho o espaço para lamuriar a injustiça que foi cometida. Com tirania alterou nossas falas, e sem poder nos comunicar, não foi possível mais unirmos forças e sabedoria. Tornamos-nos isolados como náufragos, torturados, sem poder dizer nada às nossas esposas, filhos e irmãos.
Indago o porquê de tamanha crueldade com os seus semelhantes; qual a razão de nos submeter a escravos e não ser generoso por não querer dividir as infinitudes do paraíso.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Duelo do Som e do Silêncio

Um silêncio que corre para esse lugar
Vacila no canto do lado de lá
Rasgado ao meio por um assovio
Uma linha contínua como linha de fio
Tropeça e cai no meio do entulho
Perde a honra com o barulho
Agoniza-se no meio das ruas
Corta volta e entra na curva
A procura de uma paisagem nua
E bate a cara em quinas turvas
Entra em uma sala escura
E ouve uma voz pedindo que durma
Adentra a uma vereda a esmo
Reconhece o som de si mesmo
Descobre um planalto imenso
Assiste ao duelo entre o som e o silêncio
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Curinga

Um dia eu poderei comprar
Um par de asas para poder voar
Nessas nuvens que vão confundir
As únicas coisas que sei sentir
Quando não estou neste céu azul
Sentado na cadeira, compondo um blues
Lembrando da cabeleira
De uma garota fugaz
Sendo eu o curinga
E ela o ás
Mas se eu fosse um pássaro
Para mim tanto faz
E se ela fosse um ato
Também tanto faz
Um dia me disseram
Que se eu fizesse um feito
E não surgisse o efeito
Eu teria um defeito
Mas de qualquer jeito
Para mim tanto faz
Por que um dia eu poderei comprar
Um par de asas para poder voar
Nessas nuvens que vão confundir
As únicas coisas que sei sentir
Quando não estou neste céu azul
Sentado na cadeira, compondo um blues
domingo, 12 de julho de 2009
Galo

E se houve alguma ligação fraterna, ela foi cortada. Anos mais tarde, o hospício fez questão de podar a simbolização. O que se encontra são gritos por ajuda enlatados nas retinas das outras vítimas dessa tortura chamada mentira. Vadiagem e fidalguia se baseiam no mesmo conceito de mentira, apartados por direção. Vadio mente para os outros; fidalgo, para si mesmo.
Quando saí do hospício encontrei um galo cantando; e bombas ecoaram nas nuvens. Coloquei em prática tudo que aprendi: levei a mão à cabeça, encolhi o corpo e despistei obstáculos.
Um profeta na esquina cantava que há algo que não se pode enganar; e há algo que nos espera quando não há de se esperar. Então, essas datas premeditadas são falsas. Descobrir mentiras prontas é fácil; difícil é saber onde não encontrá-las.
Os olhos petrificados de um galo eu vi, certa manhã, quando saí do hospício, e ele cantou. Bombas ecoaram nas nuvens.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Legítima Defesa

Saindo do serviço depois de um dia estressante
Pego o primeiro ônibus em direção ao centro
O ônibus voa como uma barata ambulante
Rumando cada vez mais pelo esgoto adentro
Uma parada, pego outro ônibus
Não presto atenção, só se que sigo a viagem
Passo pelo córrego, não presto atenção
Só sei que sinto o odor humano daqui da margem
Chego ao terminal, começo a caminhada
Só penso em chegar em casa, poder banhar
Poder descansar, assistir ao noticiário local
Mas não imaginava que antes seria parado
Por uma viatura policial
Plantaram um revolver na minha pasta
E me acusaram de assalto
Eu disse: “Mas eu só estava trabalhando”
O soldado riu e respondeu:
“Nós também estamos”
Fui interrogado e autuado
Ameaça a integridade física
Ou seja:
Fui morto em legítima defesa
terça-feira, 7 de julho de 2009
Clemência
Ajoelhou-se, fechou os olhos, juntou as mãos. Esqueceu-se dos tormentos e entrou na janela dos olhos de quem não vê. Guardou as perguntas que sustentaram o massacre e se entregou.
Fez a renúncia e sentiu a chuva chovendo. Contorceu-se e não pediu nada. Olhou as mãos e viu decadência. Cortou o pulso e sentiu dor. Abraçou as sandálias do mestre e sentiu a mão pousando na sua cabeça. A língua dançou, a alma chorou e o veneno virou pedra. Pagou pela agonia que causou. Sentiu sede e os joelhos derretendo; extirpou os desejos.
Levantou a cabeça e viu os olhos dourados. Pediu clemência.
sábado, 4 de julho de 2009
Depois da Sete

Você quer saber o que faço quando acordo
Depois de dormir o dia inteiro
Eu lhe digo: eu não sei
O que faço primeiro
Expressões são movimentos faciais
Gestos são expressões canibais
Quando acordo, olho o espelho
Vejo pares corando de medo
E recordo tudo que disse que lembraria jamais
Mas me esqueço do mais importante
Das lembranças gravadas na instante
Das particularidades de uma mente ignorante
Tomo banho, visto a roupa.
E arranho a voz rouca
De sono permanente
Já não me lembro do dia quente
Que partiu depois da sete.
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