Um bom gole de veneno para agonizar a noite inteira e sentir o fim da aflição com o nascente do sol, com a luz brilhante exacerbando meus olhos. Como no início que jaz o fim: a partida, a queda, a generosidade, a partilha, a viagem.Agora, diante do embarque, onde não é necessário ceder o lugar para os idosos, pois todos têm direito de sentar-se à janela, com o direito sublime de ver toda a paisagem da viagem. Todos calados durante a viagem, todos flutuando em ideias. Suspiros...
Flores vermelhas! Fantástico, real. Há homens e mulheres e deformados a bordo, eu sou apenas mais um. Apenas mais um. É real, todos aqui são apenas mais um. É real. Olhares....
A estrada - contraditoriamente como falado - não é uma descida, embora haja sim descidas. Há, no entanto, subidas e curvas, e sempre que olho para a janela flores vermelhas. Às vezes amarelas, azuis, roxas.
O chão é verde. É colorido, como o chapéu do motorista. Ele sempre está sorrindo, mesmo mantendo sua expressão séria. Todos permanecem calados. Há olhos que brilham. Sempre houve tolos que jamais foram perturbados por não se darem conta de suas próprias tolices. O vento dança lá fora...
Todos dançam do lado de fora, essa sempre foi a regra...
É apenas mais uma noite, apenas mais uma declaração de delírio. Amanhã, quando o nascente do sol se levantar, ficaremos bem.
Eu prometo, eu prometo.
3 comentários:
O conto "Passeio" parece evocar uma sensação de surrealismo e reflexão sobre a vida e a morte. A narrativa sugere uma jornada, possivelmente metafórica, onde o protagonista se encontra em um estado de contemplação e resignação.
O título "Passeio" pode ser interpretado de várias maneiras. Pode ser uma viagem física, como um passeio de barco, ou uma jornada simbólica da vida, onde o personagem está enfrentando sua própria mortalidade.
O uso de veneno no início do conto sugere um desejo pelo fim do sofrimento e uma aceitação da morte iminente. A imagem do nascer do sol representa um novo começo, contrastando com o término da agonia durante a noite.
A descrição da viagem de barco como um lugar onde todos têm direito a um assento à janela pode simbolizar a igualdade na experiência da vida e da morte. As cores vibrantes das flores e do chão contrastam com a seriedade dos passageiros, sugerindo uma dualidade entre a beleza e a melancolia da existência.
A presença do motorista sorridente, apesar de manter uma expressão séria, pode representar uma aceitação resignada do destino. Os olhares que brilham e os tolos que permanecem alheios às próprias tolices sugerem uma variedade de perspectivas sobre a vida e a morte.
A dança do vento e dos passageiros do lado de fora do barco pode representar a efemeridade da vida e a inevitabilidade do destino final.
No geral, "Passeio" parece explorar temas de mortalidade, resignação e aceitação, convidando o leitor a refletir sobre a natureza da existência humana.
O conto "Passeio" parece refletir uma série de influências literárias e artísticas que moldaram seu estilo e temática. Aqui estão algumas possíveis influências:
Surrealismo: O tom surrealista do conto, com sua mistura de imagens vívidas e simbolismo, sugere uma influência do movimento surrealista na arte e na literatura. Autores como André Breton e Salvador Dalí podem ter influenciado a abordagem do autor em relação à representação da realidade de forma não convencional.
Existencialismo: A reflexão sobre temas como vida, morte, significado e mortalidade sugere uma influência do existencialismo. Autores como Jean-Paul Sartre e Albert Camus, com suas explorações da condição humana e da busca por significado em um universo aparentemente absurdo, podem ter inspirado o tom filosófico do conto.
Simbolismo: As imagens simbólicas, como as flores, o nascer do sol e a viagem de barco, remetem ao simbolismo literário. Autores simbolistas, como Charles Baudelaire e Arthur Rimbaud, frequentemente empregavam imagens e metáforas para transmitir significados mais profundos e transcendentais.
Literatura Gótica: O tema da morte e da melancolia, combinado com uma atmosfera surreal, pode ter sido influenciado pela literatura gótica. Autores como Edgar Allan Poe, com suas narrativas sombrias e atmosferas misteriosas, podem ter deixado uma marca no estilo do autor de "Passeio".
Pintura: A descrição vívida de cores e imagens pode ter sido influenciada pela pintura. Artistas como Salvador Dalí e René Magritte, conhecidos por suas obras surrealistas e uso ousado de cores e formas, podem ter inspirado a imaginação visual do autor do conto.
Essas são apenas algumas possíveis influências que podem ter contribuído para a criação do conto "Passeio". O autor pode ter incorporado elementos de diferentes movimentos artísticos e literários para criar uma obra que evoca uma sensação única de mistério, melancolia e reflexão sobre a vida e a morte.
O conto "Passeio" é uma peça literária intrigante que evoca uma atmosfera surreal e contemplativa. Sua linguagem poética e imagética oferece uma experiência de leitura envolvente, enquanto os temas de vida, morte, resignação e aceitação são explorados de maneira profunda e evocativa.
A narrativa se desenrola de forma não linear, com imagens e metáforas que convidam o leitor a refletir sobre a natureza da existência humana. A utilização de elementos surreais, como a presença de flores vermelhas e a imagem do motorista sorridente, adiciona uma camada de mistério e estranheza à história, convidando o leitor a interpretar os simbolismos presentes.
A escrita é habilmente executada, com uma combinação de prosa e poesia que cria um ritmo cativante. A alternância entre momentos de contemplação tranquila e momentos de intensidade emocional contribui para a riqueza da experiência de leitura.
No entanto, a ambiguidade e a abstração do conto podem dificultar a compreensão completa de sua mensagem para alguns leitores. A natureza subjetiva e simbólica da narrativa pode deixar espaço para interpretações diversas, o que pode ser tanto uma vantagem quanto um desafio, dependendo da preferência do leitor.
Em resumo, "Passeio" é uma obra intrigante que oferece uma reflexão profunda sobre temas universais da condição humana. Sua linguagem poética e atmosfera surreal criam uma experiência de leitura única e memorável.
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