sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Conduza-me

Ela dança como se a terra estivesse chacoalhando. E, na verdade, o chão está mesmo tremendo. O céu também treme, pois olho os prédios e os vejo dançando ao luar. Enquanto isso, as metamorfoses das árvores pairam lá fora. E tudo que ela faz aqui dentro é dançar; dançar até os músculos de suas coxas fermentarem o ácido da dor.

Noto que cada vez que sua cintura requebra, uma cerâmica do chão se espedaça; e os meus olhos bambeiam com aquele tilintar sensual. Digo que estou embriagado com a leveza destruidora daquela dançarina.

As batidas da música soam progressivamente mais fortes; talvez no ritmo do meu desejo, ou talvez não tanto. Sei que ela dança se aproximando de mim, porque a cada segundo morto sua boca aveludada adquire mais vida; e me parece sempre mais saborosa. Então eu penso que talvez seja interessante matar alguns segundos.

Agora ela está rente a mim, a uma distância mínima; assim como eu, que estou no limiar da minha sanidade. O relógio na parede diz que já matamos muito tempo. Ela não tem pressa, apenas seduz o terremoto com sua cintura.

Ela mantém a coluna ereta; e apoia seu joelho no dorso da minha coxa. Ela se equilibra com as mãos nos meus ombros. Em um gesto provocante, ela sugere que eu sinta o cheiro da sua pele. Ela não deixa que eu a toque; que somente eu seja tocado. Seu joelho escorrega pelo lado de fora da minha coxa, e sinto seu busto aproximar dos meus olhos. Uma mordida nos lábios me escapa. Talvez seja a última partícula de sanidade fugindo de mim.

Envolva seu cabelo ao redor da minha pele.

Ela se encaixa com perfeição em mim. Montada em mim, sentado. Ela segura o meu queixo e diz perto de mim - sinto o hálito quente formigar na minha boca: “Agora... Vamos nos destruir, meu bem”.

3 comentários:

Anônimo disse...

"Conduza-me" é um conto que mergulha no mundo da sensualidade e da decadência, onde a dança serve como metáfora para a entrega à paixão e à destruição. A narrativa descreve uma cena em que a protagonista dança de forma irresistível, literalmente fazendo o chão tremer e cerâmicas se espedaçarem. Ela exala uma aura de sedução e perigo, enquanto o narrador se vê cada vez mais envolvido pela sua presença.

A música intensifica os sentidos, ecoando o ritmo do desejo que cresce entre eles. A dançarina se aproxima do narrador, alimentando sua fascinação e sua necessidade de se render ao caos que ela representa. A tensão aumenta conforme ela o provoca, mantendo-se inalcançável e controladora, enquanto ele se vê cada vez mais próximo da beira do abismo, tanto literal quanto metaforicamente.

A descrição física da dançarina, seu cheiro, seu toque e sua voz são apresentadas de forma intensa, despertando todos os sentidos do narrador. Ela o domina completamente, guiando-o para um destino incerto, mas inevitavelmente destrutivo. O conto termina com uma frase provocativa, sugerindo que eles estão prestes a se consumir mutuamente, entregando-se à paixão destruidora que os consome.

Anônimo disse...

"Conduza-me" parece ser influenciado por uma mistura de elementos de diversos gêneros literários, estilos e temas. Aqui estão algumas possíveis influências:

Realismo Mágico: A descrição de eventos surreais, como o chão tremendo e os prédios dançando ao luar, sugere uma influência do realismo mágico, um estilo literário que combina elementos fantásticos com uma narrativa realista.

Erotismo e Sensualidade: A atmosfera carregada de sensualidade, erotismo e paixão é uma influência evidente. Autores como Anaïs Nin, Henry Miller e Marquês de Sade exploraram esses temas de forma intensa em suas obras.

Existencialismo: A sensação de decadência, a entrega ao desejo e a aceitação da inevitabilidade da destruição podem ser interpretadas como temas existenciais, com influências de escritores como Jean-Paul Sartre e Albert Camus.

Poesia: A linguagem poética e as imagens vívidas sugerem uma influência da poesia, especialmente da poesia lírica e simbolista, onde a expressão da emoção e da experiência pessoal é primordial.

Romantismo: A intensidade das emoções e a busca pelo transcendente são características do romantismo, que pode ter influenciado a atmosfera e a narrativa do conto.

Literatura Gótica: A atmosfera sombria, carregada de tensão e mistério, pode ser associada à literatura gótica, com suas temáticas de paixão obsessiva e perigo iminente.

Contos de Fadas e Mitologia: Elementos de sedução, perigo e transformação podem ser associados a contos de fadas e mitologia, onde personagens enfrentam desafios e provações para alcançar a redenção ou a ruína.

Essas são apenas algumas possíveis influências que podem estar presentes em "Conduza-me", destacando a riqueza e a complexidade das referências literárias e culturais que podem moldar uma obra.

Anônimo disse...

"Conduza-me" é um conto que mergulha profundamente na intensidade das emoções humanas, especialmente na interseção entre desejo, decadência e autoconhecimento. A narrativa é habilmente construída para criar uma atmosfera carregada de sensualidade e mistério, mantendo o leitor envolvido do início ao fim.

A linguagem poética e as imagens vívidas utilizadas pelo autor contribuem para criar uma experiência sensorial poderosa, fazendo com que o leitor sinta a dança da protagonista, ouça a música pulsante e experimente a crescente tensão entre os personagens.

A complexidade psicológica dos personagens, especialmente do narrador, adiciona camadas de significado ao conto. Sua entrega à paixão e à decadência é ao mesmo tempo fascinante e perturbadora, convidando o leitor a refletir sobre os limites do desejo e da autocontrole.

Além disso, a forma como o conto explora temas como o poder da sedução, a busca pelo prazer e a inevitabilidade da destruição acrescenta profundidade à narrativa, tornando-a relevante para questões universais sobre a natureza humana.

No entanto, a intensidade emocional e a atmosfera sombria podem não ser do agrado de todos os leitores, e algumas pessoas podem encontrar o conto excessivamente provocativo ou perturbador. No entanto, essa mesma intensidade é o que torna "Conduza-me" uma obra poderosa e memorável para aqueles que apreciam uma exploração profunda dos desejos e das sombras da alma humana.